Religião
Igrejas celebram os 500 anos da Reforma Luterana
Há cinco séculos, o monge desafiava as práticas da igreja e mudava a forma como a religião chegava às pessoas
Carlos Queiroz -
Em 31 de outubro de 1517, o então monge e teólogo Martinho Lutero afixou na porta da igreja de Wittemberg, na Alemanha, suas 95 teses que criticavam a postura da Igreja Católica. A luta pelo fim do que considerava abusos, como o comércio de indulgências e a concentração das atividades religiosas exclusivamente em torno do clero e da burguesia, fez com que fosse considerado por muitos um herege, e em 1521 acabou excomungado pelo Papa Leão X.
As atitudes de Lutero mudaram a forma como as religiões cristãs passaram a ser abordadas. Roili Borchardt, pastora sinodal da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) lembra que Lutero foi muito além de desafiar. Sua postura foi inclusiva, buscando trazer todo o povo para o colo da igreja, que na época era centrada em torno de uma elite privilegiada.
Roili relembra que Lutero costumava enviar cartas aos poderosos pedindo para que a educação se estendesse ao povo todo. A partir da tradução da Bíblia para o alemão (até então, ela existia apenas em latim), ele permitiu que o povo pudesse se aproximar da palavra sagrada. Além disso, o monge utilizou de uma novidade na época, a criação da imprensa de Gutenberg no século anterior, para espalhar folhetos com palavras religiosas e de conscientização à população. Os hinos cantados por toda a igreja, até hoje uma tradição nas igrejas luteranas, também foram uma herança de seu precursor, assim como a valorização da figura da mulher dentro da organização, dando maior espaço a elas, assim como a todas as minorias. "A ideia dele era mudar atitudes e gerar discussões. Lutero nunca quis criar uma nova religião", ressalta a pastora.
Conselheiro do distrito Sul 1 da Igreja Evangélica Luterana no Brasil (IELB), o pastor Júlio Ribak ressalta que Lutero fez com que a palavra bíblica passasse a ser mais valorizada que a de pregadores. "Ele resgatou a verdade da palavra de Deus, tendo como principal fator as escrituras sagradas", recorda o pastor. A ideia de alcançar o perdão divino através do contato com Deus, e não por meio de objetos, também é uma das revoluções do monge.
Divisões
A igreja luterana no Brasil é formada por duas vertentes. A IECLB e IELB possuem o mesmo fim, mas tratam-se de organizações diferentes. Líder do sínodo sul-riograndense da IECLB, a pastora Roili Borchardt diz que a implantação de ambos aqui foi o que gerou a divisão. Os de confissão luterana são em sua maioria provenientes de descendência alemã, que quando chegaram ao país fundaram sua unidade. Já a IELB é proveniente de imigrantes vindos do sínodo do Missouri, nos Estados Unidos. Por isso a diferença, que o pastor Júlio Ribak afirma ser apenas prática, na implantação.
Atualmente, segundo o censo de 2010 do IBGE, existem 999.498 pessoas da religião evangélica luterana no Brasil. Destes, 19.760 em Pelotas - cerca de 6% da população. Se for considerada toda a microrregião onde a cidade está situada, com 484.912 habitantes, a porcentagem sobe para 12,4%. A IELB diz que conta com em torno de 243 mil membros. Já a IECLB possui cerca de 700 mil. Há ainda vertentes independentes da religião, não inclusas nestes dois grupos.
As influências no catolicismo
O pároco da Catedral Metropolitana de São Francisco de Paula, padre Luiz Amarildo Boari lembra que Lutero, hoje, é uma influência positiva dentro da Igreja Católica. A busca por diálogo entre católicos e luteranos dá a tona das celebrações do aniversário da reforma proposta por ele. Uma comissão luterano-católica pela unidade, chamada Do Conflito à União, visa unir todos para celebrar os ensinamentos do monge, lembrando que ele também era membro da igreja católica.
O principal legado de Lutero, no ponto de vista do padre, foi valorizar as escrituras como ponto fundamental da religião, em uma época que se supervalorizava as recomendações institucionais em detrimento do evangelho. "Temos que olhar para ele como alguém que alertou ao distanciamento do verdadeiro significado da palavra, e não como alguém que gerou cisão". O religioso destaca que a igreja deve sempre considerar as contribuições da história, na busca por modernizar-se através do diálogo e unidade.
Festividades
No próximo domingo, a partir das 13h30min, a IELB promove o Festival Vida e Arte, na praça dom Antônio Zattera. A IECLB promoveu no dia primeiro de outubro um evento em celebração à data.
Na próxima terça-feira, dia em que completam exatos 500 anos da reforma, a Câmara de Vereadores de Pelotas promove audiência pública proposta pela vereadora Zilda Bürkle. A solenidade ocorre às 19h no colégio Sinodal Alfredo Simon (rua Reverendo Alfredo Simon, 550, nas Três Vendas). As lideranças e membros de ambas as vertentes luteranas e também da igreja independente estarão presentes. Além disso, apresentações artísticas de corais e grupos ocorrerão na sessão.
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